Infecções Urinárias Associadas a Cateter numa Unidade de Queimados: Estudo Epidemiológico

Autores

  • Serviço de Urologia – Centro Hospitalar De Trás-os-Montes e Alto Douro
  • Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
  • Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
  • Serviço de Patologia Clínica - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
  • Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
  • Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
  • Serviço de Urologia – Centro Hospitalar De Trás-os-Montes e Alto Douro

DOI:

https://doi.org/10.24915/aup.34.1-2.4

Palavras-chave:

Cateterismo Urinário, Infecção Hospitalar, Infecções Urinárias/epidemiologia, Queimaduras, Unidades de Queimados

Resumo

Introdução: Para além das infecções das áreas cutâneas queimadas, as vítimas de queimaduras apresentam também uma susceptibilidade aumentada aos outros tipos de infecção nosocomial. As infecções do trato urinário associadas a cateter (CA- -UTI) são das mais comuns nesse contexto, sendo responsáveis por elevada morbilidade, aumento do tempo de internamento e dos custos associados. O objectivo deste estudo foi caracterizar as infecções urinárias associadas a cateter numa Unidade de Queimados, bem como os agentes microbianos responsáveis pelas mesmas.

Material e Métodos: Estudo retrospectivo no qual foram analisados os dados clínicos e os resultados das uroculturas realizadas numa Unidade de Queimados (UQ) de um Hospital Universitário (Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal- CHUC), referentes a doentes que tenham realizado pelo menos uma vez este exame durante o seu internamento hospitalar, entre 1 de Janeiro de 2010 e 31 de Dezembro de 2014. Foram analisadas diferentes variáveis, incluindo a data da infecção, as características gerais da população e o microorganismo responsável. As infecções foram ainda categorizadas tendo em consideração a existência de episódios prévios de CA-UTI no mesmo doente, definindo-se assim infecção primária, reinfecção, recaída e sobre- infecção.

Resultados: Entre Janeiro de 2010 e Dezembro de 2014 foram diagnosticadas 213 CA-UTI em 143 doentes. Os uropatógenos mais frequentes foram Escherichia coli (27,2%), Enterococcus faecalis (20,2%), Pseudomonas spp. (13,1%), Candida spp. (12,1%), Klebsiella spp. (10,8%) e Acinetobacter baumannii (9,9%). Os microrganismos mais comuns variaram significativamente consoante o género do doente. As CA-UTI analisadas equivaleram a 143 infecções primárias, 44 reinfecções, 17 recaídas e nove sobre-infecções. A recaída correspondeu a 11% das infecções no sexo masculino e a 5,7% no sexo feminino, sendo significativamente mais frequente em infecções secundárias a Acinetobacter baumannii.

Discussão/Conclusão: As infecções urinárias associadas a cateter são infecções bastante comuns em Unidades de Cuidados Intensivos, nomeadamente em Unidade de Queimados. No caso da UQ dos CHUC, a distribuição etiológica encontrada foi semelhante à descrita na literatura. Os agentes microbiológicos identificados nas infecções polimicrobianas foram semelhantes aos identificados nas infecções monomicrobianas, provavelmente devido ao carácter temporário da algaliação. As infecções por Acinetobacter baumannii apresentaram elevada predisposição para a recaída, o que estará provavelmente relacionado com a sua multirresistência à antibioterapia, comum neste patógeno. A elevada percentagem de recaídas no sexo masculino, apesar de ausência de significância estatística, poderá estar relacionado com a maior frequência de infecções por Acinetobacter baumannii neste género. A candidúria foi mais frequente em contexto de reinfecção e sobre-infecção, provavelmente devido aos efeitos da antibioterapia sistémica prévia com subsequente perturbação da flora bacteriana.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

1. HLari AR, Alaghehbandan R, Nikui R. Epidemiological study of 3341 burns
patients during three years in Tehran, Iran. Burns. 2000;26:49-53.

2. M Revathi G, Puri J, Jain BK. Bacteriology of burns. Burns. 1998;24:347–9.

3. Lari AR, Alaghehbandan R. Nosocomial infections in an Iranian burn care center.
Burns. 2000;26:737–40.

4. Pruitt BA, McManus AT. The changing epidemiology of infection in burn patients.
World J Surg. 1992;16:57-67.

5. Lesseva MI, Hadjiski OG. Analysis of bacteruiria in patients with burns. Burns.
1995;21:3–6.

6. Arantes A, Carvalho ES, Medeiros ES, Farhat CK, Mantese OC. Uso de diagramas
de controle na vigilância epidemiológica das infecções hospitalares. Rev
Saúde Pública. 2003;37:768-74

7. Gragnani A, Gonçalves ML, Feriani G, Ferreira ML. Análise microbiológica em
queimaduras. Rev Soc Bras Cir Plást. 2005;20:237-40.

8. Robins EV. Immunosuppression of the burned patient. Crit Care Nurs Clin North
Am. 1989;1:767–74.

9. Tambyah PA, Maki DG. Catheter-associated urinary tract infection is rarely
symptomatic: a prospective study of 1,497 catheterized patients. Arch Intern
Med. 2000;160:678-82.

10. Christ-Libertin C, Black S, Latacki T, Bair T. Evidence-based prevent catheter-
-associated urinary tract infections guidelines and burn-injured patients: a pilot
study. J Burn Care Res. 2015;36:e1-6.

11. Hooton TM, Bradley SF, Cardenas DD, Colgan R, Geerlings SE, Rice JC, et al.
Diagnosis, prevention, and treatment of catheter-associated urinary tract infection
in adults: 2009 International Clinical Practice Guidelines from the Infectious
Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2010;50:625-63.

12. Kizilbash QF, Petersen NJ, Chen GJ, Naik AD, Trautner BW. Bacteremia and
mortality with urinary catheter-associated bacteriuria. Infect Control Hosp Epidemiol.
2013;34:1153-9.

13. Gould CV, Umscheid CA, Agarrwal RK, Kuntz G, Pegues DA. Healthcare
Infection Control Practices Advisory Committee. Guideline for Prevention of
catheter-associated tract infection 2009. Infect Control Hosp Epidemiol. 2010;
31:319-26

14. Umscheid CA, Agarwal RK, Brennan PJ, et al. Updating the guideline development
methodology of the Healthcare Infection Control Practices Advisory
Committee (HICPAC). Am J Infect Control. 2010;38:264-73.

15. Gleckman RA, Crowley MM, Natsios GA, Madoff S. Recurrent urinary
tract infections in men: a role for aberrant bacterial forms? J Clin Microbiol.
1980;11:650-3.

16. Daifuku R, Stamm WE. Bacterial adherence to bladder uroepithelial cells in
catheter-associated urinary tract infection. N Engl J Med. 1986; 314:1208–13.
17. Nicolle LE. Catheter-related urinary tract infection. Drugs Aging. 2005; 22:627–
39.

18. Laupland KB, Zygun DA, Davies HD, Church DL, Louie TJ, Doig CJ. Incidence
and risk factors for acquiring nosocomial urinary tract infection in the critically
ill. J Crit Care. 2002;17:50-7.

19. Talaat M, Hafez S, Saied T, Elfeky R, El-Shoubary W, Pimentel G. Surveillance
of catheter-associated urinary tract infection in 4 intensive care units at Alexandria
university hospitals in Egypt. Am J Infect Control. 2010;38:222-8.

20. Tenney JH, Warren JW. Bacteriuria in women with long-term cath- eters:
paired comparison of indwelling and replacement catheters. J Infect Dis.
1988;157:199–202.

21. Rosenthal VD, Bijie H, Maki DG, Mehta Y, Apisarnthanarak A, Medeiros EA, et
al. International Nosocomial Infection Control Consortium (INICC) report, data
summary of 36 countries, for 2004-2009. Am J Infect Control. 2012;40:396–407.

22. Weinberger M, Sweet S, Leibovici L, Pitlik SD, Samra Z. Correlation between
candiduria and departmental antibiotic use. J Hosp Infect. 2003;53:183–186.

23. Paul N, Mathai E, Abraham OC, Michael JS, Mathai D. Factors associated with
candiduria and related mortality. J Infect. 2007;5:450–455.

24. Wazait HD, Patel HR, Veer V, Kelsey M, Van Der Meulen JH, Miller RA, Emberton
M. Catheter-associated urinary tract infections: prevalence of uropathogens
and pattern of antimicrobial resistance in a UK hospital (1996-2001). BJU
Int. 2003;91:806-9.

25. Tambyah PA, Halvorson KT, Maki DG. A prospective study of path- ogenesis of
catheter-associated urinary tract infections. Mayo Clin Proc. 1999;74:131–136.

26. Piljic D, Porobic-Jahic H, Piljic D, Ahmetagic S, Jahic R. Chateter-associated
Urinary Tract Infections in Adults. Mater Sociomed. 2013;25:182-6.

Publicado

2017-07-20

Edição

Secção

Artigo Original